Quem somos

Nighthawks, por Edward Hopper

por Robert Moses Pechman

Ser da cidade…é essa a nossa pegada, e por isso mesmo entendemos o que o compositor Marcelo Yuka diz quando sugere que quando a obra é maior que o homem, ela se chama cidade. Nesse sentido, nada do que é urbano nos é estranho e por isso mesmo estamos sempre vislumbrando entrar nas entranhas da cidade e revolver seus afetos intestinos, na medida em que a cidade é feita de nosso sangue mais secreto. Ser da cidade, nós somos a cidade. Reconhecendo a cidade em nós, nosso grupo de pesquisa definiu sua identidade a partir da noção de acontecimento, coisa que nos remete diretamente ao drama, a tragédia, a comédia, próprias ao encontro na cidade.

Nossa intenção é operar como se fôssemos de fato um laboratório. Uma espécie de lugar químico onde fazemos alquimia. Nossa alquimia? Seria fazer a pedra falar; ou seja, fazer a pedra contar a cidade. E o que a pedra nos conta é que ela é só um revestimento para a cidade e que por dentro da sua carnadura, o que se observa é o drama da condição humana. Portanto para nós a cidade é lugar de discurso. O que fazemos, então, é vestir a dureza da pedra com a maciez do discurso. Nesse sentido, para além da condição urbana, o que nos atrai é a condição humana da cidade. Um pouco a la Flaubert de “Educação Sentimental”, o que queremos é escrever a história moral dos homens, e tal pressupõe conhecer a cidade a partir dos seus vícios e virtudes.

Early Sunday Morning, por Edward Hopper

Trabalhar com o Escândalo Urbano é, portanto, compreender o processo de subjetivação na cidade e, mais propriamente, os afetos sociais, na medida em que partimos da noção que a cidade é lugar do encontro, da negociação, da fala e da linguagem.

Assim sendo, não é estranho que lidemos com a questão da civilidade, da sociabilidade, dos laços sociais e da urbanidade. Não é estranho que, tentando entender como conseguimos suportar o outro, como a cidade é possível e mais, como a sociedade é possível, tenhamos que lidar com o repertório emocional daqueles viventes urbanos. Na verdade, recorremos a esse repertório porque queremos capturar nele a narrativa dos afetos urbanos praticados no cotidiano da vida citadina. Daí que operamos com isso, para dar conta do que entendemos como pequena e grande urbanidade. A primeira expressando a condição humana da cidade (a convivência, a amizade, a hospitalidade, a compaixão, o ressentimento, o ódio, o preconceito, a perversão), tão bem capturada na literatura, no cinema, na música…A segunda, a grande urbanidade, é própria da dimensão política e que remete para o governo de si e do outro.

Ser da cidade… é essa a nossa pegada, e por isso mesmo entendemos o que o compositor Marcelo Yuka diz quando sugere que quando a obra é maior que o homem ela se chama cidade. Nesse sentido, nada do que é urbano nos é estranho, e por isso mesmo estamos sempre vislumbrando entrar nas entranhas da cidade e revolver seus afetos intestinos, na medida em que a cidade é feita de nosso sangue mais secreto. Isso é ser da cidade, e nós somos a cidade. Reconhecendo a cidade em nós, nosso grupo de pesquisa definiu sua identidade a partir da noção de acontecimento, coisa que nos remete diretamente ao drama, à tragédia, à comédia, próprias ao encontro na cidade.

O escândalo urbano, portanto, é a fala, a narrativa, o discurso, o linguajar na cidade e da cidade. E o que nos conta a cidade quando resolve abrir a boca e teatralizar o convívio entre os seres? Ao dramatizar o espaço, as narrativas nos dão conta da desapropriação do sujeito, de seu corpo, de sua cultura, fenômeno que aponta para o enfraquecimento dos direitos de cidadania. Uma vez em que os psicanalistas detectaram que já há algum tempo mudamos nossa forma de sofrer, de partilhar e narrar nosso sofrimento, como então nos debruçarmos sobre alquimia ou laboratórios, para nos entendermos e às nossas cidades, ou, melhor: como repensar os nossos dilemas da democracia, da cidadania e da própria civilidade diante de tantos escândalos (imorais) e escândalos (morais). Ou seja, coisa que remete para o escândalo urbano, uma narrativa que leve àquilo que Balzac narrou como da “Comédia humana”. Por isso mesmo, passamos a nos chamar de “Laboratório do Escândalo Urbano”.